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Artigo

Funções fisiológicas do glutamato na gravidez

Autor(a): Hellen Dea Barros Maluly (MALULY, H.D.B.)
Farmacêutica e Doutora em Ciência de Alimentos Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/2754275781355863

Publicação: 10 de setembro de 2021

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Resumo

O glutamato é um aminoácido produzido pelo próprio organismo humano e começa a exercer suas funções já na gestação. Dentre elas, está a sua participação no desenvolvimento do embrião através do ciclo glutamato-glutamina e serve como substrato metabólico para síntese de ácidos graxos e esteroides, além de poupar o uso de glicose para o fornecimento de energia.

Palavras-chaves: glutamato, glutamina, gestação, energia.

O glutamato é um dos aminoácidos mais abundantes na natureza. Ele está presente naturalmente nos alimentos, sendo a sua principal função o estímulo do gosto umami na língua, além de estimular a digestão de proteínas pelo estômago e fornecer energia para o intestino.

No entanto, muito além dos alimentos está sua importância no corpo humano, já que é considerado um aminoácido não-essencial, ou seja, produzido no organismo. Suas funções se iniciam no desenvolvimento do feto, juntamente com a glutamina, outro aminoácido não- essencial ou também chamado de condicional, produzido a partir do glutamato e amônia.

Ainda que pouco estudado até agora, sabe-se que o metabolismo e o transporte de glutamato e glutamina apresentam características específicas, as quais demonstram a importância da interação e comunicação entre a placenta e o fígado fetal para o controle do abastecimento e da concentração de glutamato/glutamina disponíveis para o feto.

Sabe-se que o fígado do feto é o fornecedor dominante de glutamato, ainda que a placenta possa diretamente utilizar glutamato proveniente da mãe. Em paralelo, a placenta faz, dentre suas funções, o transporte da glutamina produzida por ela mesma, ou retirada do sangue materno para a circulação fetal, e o subsequente sequestro do glutamato produzido pelo fígado do feto. Essa “troca” ou interação é que determina o ciclo placentário-fetal de glutamina-glutamato, o qual é essencial para o bom desenvolvimento tanto da placenta como do feto (BATTAGLIA, 2000).

Portanto, inicialmente, o ciclo é marcado pela síntese de glutamina pela placenta, e também pela sua absorção da circulação materna. A glutamina então é liberada para a circulação fetal (absorção umbilical) e absorvida pelo fígado fetal, onde cerca de 45% de seus carbonos participarão da produção do glutamato que após sintetizado, é devolvido à circulação fetal e absorvido pela placenta. Somente 6% dos carbonos do glutamato “sequestrados” pela placenta são convertidos em glutamina; os carbonos restantes são convertidos em CO2 VAUGHN et. al, 1995; ORTIZ et al., 2013).

Na placenta, o elevado nível de atividade das transaminases de cadeia ramificada também contribui para a produção de glutamato, através da formação de seu cetoácido oxoglutarato. Assim, o fornecimento placentário de glutamato deriva tanto da sua reabsorção a partir da circulação fetal, quanto da sua produção na placenta, associado com a transaminação dos aminoácidos de cadeia ramificada, como por exemplo, a leucina.

Os transportadores de glutamato EAAT1, EAAT2, EAAT3, EAAT4 e EAAT5 (transportadores de aminoácidos excitatórios 1, 2, 3, 4 e 5) são os principais componentes do ciclo glutamato-glutamina, e responsáveis pelo transporte ativo de glutamato sobre a membrana celular (NOORLANDER et al, 2004).

De maneira semelhante ao que ocorre no intestino, grande parte do glutamato na placenta é utilizado como combustível metabólico, e como substrato para gerar NADPH (coenzima aceptora de elétrons) para a síntese dos ácidos graxos e de esteroides, poupando a glicose para uso do feto. Assim, de certa forma, a saída de glutamato a partir do fígado fetal substitui a produção de glicose hepática, por ser o próprio, a principal fonte de energia (VAUGHN et al., 1995).

Portanto, fica clara a importância dos dois aminoácidos para a integridade do desenvolvimento do feto, tanto com relação ao fornecimento de energia para os diversos processos metabólicos envolvidos nessa fase gestacional, quanto à síntese de substâncias fundamentais como as proteínas e esteroides e a regulação e manutenção do sistema de proteção do organismo.

Referências

  1. BATTAGLIA, F.C. Glutamine and glutamate Exchange between the fetal liver and the placenta. Journal of Nutrition, v.130, p. 974S-977S, 2000.
  2. VAUGHN, P.R.; LOBO, C.; BATTAGLIA, F.C.; FENNESSEY, P.V.; WILKENING, R. B.; MESCHIA, G. . Glutamine-glutamate exchange between placenta and fetal liver. American Journal of Physiology, 268: 705-711, 1995.
  3. NOORLANDER, C.W.; DE GRAAN, P.N.E.; NIKKELS, P.G.J.; SCHRAMA, L. H.; VISSER, G.H.A. Distribution of Glutamate Transporters in the Human Placenta. Placenta Journal, 2004: 489-495.
  4. ORTIZ, TBA. Glutamato: aspectos bioquímicos. In: Reyes FGR. Umami e glutamato: aspectos químicos, biológicos e tecnológicos. São Paulo: Editora Plêiade, 2011. 164p.

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