A percepção do gosto umami no cérebro
Autor(a):
Hellen Dea Barros Maluly (MALULY, H.D.B.)
Farmacêutica e Doutora em Ciência de Alimentos.
Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/2754275781355863
Publicação: 2 de julho de 2021
Resumo
O gosto umami, quando associado à aromas harmoniosos, pode modificar as respostas de alguns neurônios, aumentando a recompensa, o prazer e a intensidade do estímulo proveniente de alimentos, o que pode influenciar no apetite e no controle da ingestão durante as refeições.
Palavras-chaves: gosto, sabor, papilas gustativas, receptores, umami, aceitação alimentar.
A sensibilidade às substâncias químicas que estimulam os receptores para paladar e olfato, que são considerados como “sentidos químicos”, pode ser afetada por vários fatores. A herança genética, o grau de exposição dos indivíduos às substâncias em sua dieta diária, e até o aspecto emocional e cognitivo que o alimento e/ou substância representam para o indivíduo, assim como a influência da publicidade, são determinantes para respostas ao prazer e à intensidade que o consumo de tal alimento irá causar no organismo.
Para avaliar alguns desses fatores, como a exposição à substâncias químicas presentes em alimentos, cientistas realizaram experimentos com primatas e humanos, utilizando sais de glutamato (glutamato monossódico — MSG) e inosinato (inosinato dissódito -IMP) em solução aquosa, e também alimentos que os contém naturalmente, como queijo e tomate. Eles verificaram, através de ressonância magnética nuclear, que os neurônios são capazes de responder a essas substâncias, quando colocadas na língua. Porém, são ainda mais responsivos quando as substâncias umami encontram-se associadas à aromas harmoniosos e/ou a um apelo visual ou emocional, como por exemplo, cheiro de carne ou queijo, ou quando oferecidos junto a um rótulo atrativo como “gosto rico e delicioso”. Além disso, esse apelo também ativou outras 2 regiões do córtex cingulado, o pregenual anterior e o estriatum ventral, que também recebem sinais do córtex secundário e são capazes de receber a sensação de prazer e intensidade do gosto umami. Da mesma forma, McCabe e Rolls (2007) também identificaram que a combinação do glutamato com um aroma harmonioso é mais agradável que o glutamato sozinho, o que indica que há uma interação entre os componentes gustativos e olfativos na resposta à interpretação da sensação dos alimentos (GRABENHORST et al., 2008a; MCCABE & ROLLS, 2007).
CRICHLEY et al. (1996) utilizaram leite com chocolate, suco de tomate e uma solução teste para analisar o grau de prazer em avaliadores em situações de privação de alimentos e após a refeição para determinar a “pós-saciedade”. Eles observaram que pode existir uma correlação direta entre o prazer da ingestão dos alimentos e a ativação do córtex orbitofrontal e que, portanto, essa região do cérebro tem um papel importante na representação do valor da recompensa de estímulos alimentares como o chocolate, um alimento doce, e o alimento rico em umami, o tomate. O prazer causado pelo alimento pode então ser gerado também pelo córtex secundário.
Além disso, GRABENHORST et al. (2008) também verificaram que o estado de privação pode modular positivamente a resposta ao umami no córtex órbitofrontal para torná-lo agradável, de modo que, quando saciado, a recompensa ao umami diminui, e o estado de atenção seletiva permite o processamento em diferentes áreas do cérebro. Quando o indivíduo é induzido a atentar-se ao prazer do alimento ou estímulo, ele acaba por estimular mais o córtex secundário e o cingulado pregenual. Já quando ficam atentos à intensidade do estímulo provocado pelo alimento, o córtex primário representa a maior resposta GRABENHORST et al., 2008b).
Portanto, o gosto umami pode ser pensado como um gosto rico e delicioso que é produzido pela combinação do gosto do glutamato e um aroma agradável harmônico. Através deste fato, também é possível compreender a influência de outros sentidos junto à análise sensorial do gosto umami, demonstrando seu possível papel no apetite e no controle da ingestão de alimentos.
Referências
- GRABENHORST, F.; BILDERBECK, A.; ROLLS, E.T. How cognition modulates affective responses to taste and flavor: top-down influences on the orbitofrontal and pregenual cingulate córtices. Cerebral Cortex, v. 18, n.7, 2008, p. 1549-1559.
- MCCABE, C.; ROLLS, E.T. Umami: a delicious flavor formed by convergence of taste and olfactory pathways in the human brain. European Journal of Neuroscience, v. 25, n. 6, 2007, p. 1855-1864.
- CRICHLEY, H.; MASON, R.; ROLLS, E.T.; WAKEMAN, E. Responses of neurons in the primate taste to the glutamate íon and to inosinate 5’-monophosphate. Physiology Behavior, v.59, n. 4-5, 1996. p. 991-1000.
- GRABENHORST, F.; ROLLS, E.T.; PARRIS, B.A. From affective value to decision-making in the prefrontal córtex. European Journal of Neuroscience, v.28, n.9, 2008, p. 1930-1039.